A criatividade é o maior paradoxo da humanidade. Por um lado, alguns poucos visionários são alçados à glória, consagrados como semideuses e heróis no Olimpo da História. Por outro, o criativo inquieto e incomodado com as estruturas de seu tempo é por vezes desprezado e considerado preguiçoso, indisciplinado ou louco. Ou tudo junto.

Albert Einstein foi um deles. Na escola, era um menino-problema. Um dos maiores físicos de todos os tempos tirava nota baixa, veja bem.

Imagine o Einstein ficando de castigo porque tirou nota baixa. E levando bronca de um professor enfurecido com o aluno que não prestava atenção. Queria ver a cara desse mesmo professor quando ele ganhou o Nobel de Física.

E o Einstein não era o único. Parece ser de senso comum que grandes cientistas e artistas sofreram por serem diferentes do que esperavam que eles fossem.

Vincent van Gogh foi outro que penou por quebrar as regras de sua época. Era visto por seus contemporâneos como desequilibrado e antissocial. Pintava quadros estranhos. “‘Aquilo’ é arte?”, vociferavam os críticos raivosos de seu tempo.

Não foi compreendido nem muito menos admirado em vida. E a ironia nada delicada da História aparece de novo: após a morte do pintor, seus quadros entraram nos principais museus do mundo e passaram a custar uma fortuna.

Será que essas, entre tantas outras biografias movidas por montanhas-russas de flores e vaias, ficaram no passado? Ou o paradoxo da criatividade continua?

Vamos pensar nas escolas. Praticamente todas as esferas da sociedade acreditam que o jovem de hoje pensa e age diferente dos de outros tempos.

Como vemos nossas crianças e adolescentes? Desatentos, com certeza. Ficam no celular o dia todo. Ausentes, sem dúvida. Não conversam com ninguém, não saem da frente dos videogames.

São frases comuns de se escutar. Mas será mesmo?

Circulou nas redes sociais há uns meses uma tirinha que mostrava os pais reclamando de que sua filha não largava o celular. Ela, por sua vez, lia Ulisses, de James Joyce, pelo aparelho.

E agora?

Desatentos de hoje podem ser os inventores e artistas de logo mais. Talvez o paradoxo da criatividade não acabe, mas talvez possamos aprender com esses pontos fora da curva. E eles estão em todos os lugares. As escolas estão cheias deles. Para enxergá-los, é preciso lançar fora de uma vez nossos preconceitos e estereótipos.

*Flávia Leal Alves é coordenadora de projetos sociais da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho. Artigo publicado no jornal Zero Hora em 26/01/2016.